segunda-feira, 16 de abril de 2012

Braços e Aletas

I

Os pássaros perdem seus campos, espaços...
E sofrem - coitados! - na vã tentativa
de ter os seus ninhos formados com laços
de amor que os humanos deixaram à deriva.

Destroem seus lares com pedras, com aços,
cimento e madeira - nem mandam missiva;
porque são robustos e têm fortes braços
e nunca se importam com mão aflitiva.

E os pássaros vivem cantando contentes
pra boa, pra má... - nem se importam quais gentes!
mas cantam solenes seu terno louvor.

Os homens estoldos só vivem à moda
bem ouvem a harmonia que nunca incomoda,
mas cegos, não veem o nítido amor.

07/01/09 11h11


II

Eu tenho uma casa que é mui confortável:
tem cômodos grandes, lareira e sofá;
na alcova tem tálamo quente, palpável
que eu deito, cansado de tanto sonhar.

Mas, quando eu me deito infeliz, tão instável,
o rosto molhado de tanto chorar...
Sem bem - poderia - viver ser afável
cantando singelo em padrão-sabiá.

E eu piro, dou giro, desviro na noite!...
Um pranto... um delírio... não há quem acoite
um ser sem escrúpulo deste planeta.

Pois bem passarinhos que não têm mais casas
invejo-vos muito, pois vós tendes asas
e eu tenho de tudo, mas menos aleta.

07/01/09 12h15


III

Verdadeiro Vôo


Mas quanta loucura que existe no ser
que insiste em dizer as loucuras pagãs!
- Eu vôo as manhãs com excelso poder
e o mundo hostil vê... - Tais idéias são vãs!

Não sei... - por ventura ou nefasto pensar
que dizes flanar como o mais ledo pássaro...
Teu senso no báratro atroz - negro mar
- já deve pousar, pois não passas de Lázaro.

Porque o poetóide tem mil pensamentos
e vôa nos Tempos com tua invenção.
Os sisos são naves que cortam os ventos,

mas vives momentos de pura ficção.
O pássaro vôa por si, jubiloso
sem nunca investir contra o bardo tinhoso.

26/01/2009 12h30

Cairo Pereira

Nenhum comentário:

Postar um comentário