quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Duas Mil e Sessenta e Uma Noites



Para Francisca Patrícia Pereira


          Então, com o sono, ela se virou para o outro lado, afim de não dar atenção para mim já que eu tentava persuadi-la a cair nos laços inefáveis do amor. Os cabelos castanhos curtos caíram para frente, tampando metade do rosto, mas deixando o pescoço liso e fino à mostra. Talvez fosse o preço a pagar. A luz era frouxa e há muito meus olhos haviam se acostumado com a pouca luminosidade. De modo que consegui enxergar perfeitamente aquele pescoço moreno e sentir a sutileza feminina ao dizer não, que aguçava mais todos os meus sentidos masculinos.
          Ajeitei-me na cama cuidadosamente, aproximando-me vagarosamente para fazer o menor ruído possível e o vento que era expelido de minhas narinas batia suavemente no pescoço e na orelha dela, fazendo-a sentir sensações agradáveis. Eu juro que senti quando os pêlos dos braços se levantaram mesmo com a pouca luminosidade. Talvez você, caro leitor, possa se indagar "como?" Só sei que senti, e a confirmação eu tive quando meus lábios carnudos tocaram suavemente aquele pescoço fino. A ponta da minha língua tocou brandamente nele, ela levantou os ombros em protesto, tentando se proteger de meus carinhos, mas a minha mão já acariciava o ombro nu, massageando amenamente e ele retornou ao seu estado normal, levantando somente de vez em quando como que se estivesse levando pequenos choques e como que se os movimentos viessem involuntariamente, coisa que acelerava mais meu desejo já que todas as recusas, em minha mente, queriam dizer “sim meu amor, assim... assim...”.
          Eu me via realizado ao vê-la naquele estado e me sentia o homem mais feliz do mundo como se os meus pés não pisassem o solo da Terra; porque sabia que estava sendo amado, desejado e dileto. É muito bom se sentir assim, ruim é quando se perde tudo como a brisa que passa rapidamente. Os pensamentos mais negros tornavam-se brancos como a neve, e, eu podia sentir o meu amor sair dos meus poros com todo o carinho que minhas mãos, minha boca e minha língua faziam, pois não era mero prazer de duas pessoas e sim o amor delas sendo construído a cada dia. Tenho certeza que a certeza dela me confia em dizer que tudo que vivemos foi caridade.
          Ela se mexeu para o lado direito, justamente o lado que eu a acariciava, porque eu dormia do lado direito da cama todas as noites como era de praxe. De modo que a boca dela se aproximou mais da minha e ela pôde sentir o meu hálito.
           Eu sabia que ela gostava...
         Naquele átimo os pensamentos da minha amada voaram. Aquilo era tudo que ela sonhara em quase quatro anos de convivência antes do laço matrimonial, mas dizer isso parecia ser demais para o orgulho feminino. Ela já não sabia mais o que era cansaço; já não tinha mais preocupações com trabalho, com a casa, com o nosso filho e tudo era um mundo novo, onde a fantasia não fazia mais parte da realidade. Naquele instante percebeu o quanto estava com saudade de mim e isso não se explica assim do nada, porque as quatro paredes não revelaram isto até hoje. Quem sou eu para revelá-lo?
          Eu não tive culpa por ela estar com uma camisola preta e folgada de manga tão curta que dava para ver os ombros nus, a metade das costas aparecendo e que me deixava em estado de frenesi... Não. Eu não tive culpa. Juro que não tive!
         Senti o seio dela intumescendo por causa da respiração que acelerava devido as leves chuchadas que eu dava ora no pescoço ora na orelha, juntamente com beijos ternos e precisos, porque eu sabia exatamente onde tocar e como tocar.
          De repente, ela se virou para o meu lado de vez e as minhas unhas por fazer passaram nas costas lisas, onde sentia mais excitação, enquanto me beijava com avidez revelando o desejo e o amor que tinha por mim. A renda? Não havia. Senti quando a pélvica dela encaixou em mim e quando nossos corpos se uniram na cerimônia mais bonita do planeta, dando espaço para o espírito, corpo e alma se revelarem mutuamente como se nós seis fôssemos um só. Ali permanecemos nos beijando, acariciando-nos por tempos até que o júbilo final fosse eclodido com alegria e satisfação.
          Então, ficamos conversando por mais alguns minutos até que o sono bateu e ela dormiu com a cabeça encostada em meus ombros escutando de fundo o som rouco de meu ronco já que tinha uma pequena deficiência auditiva. Até isso parecia ser perfeito, pois meu ronco incomoda pessoas com perfeita saúde.
         Esta cena se repetiu cinco anos, nove meses e vinte e quatro dias, por isso não me lembro de todas, porque todas às vezes fui trasladado por Afrodite para o mundo dos sonhos-reais. Somente agora vejo o quanto tudo aquilo foi importante para mim, o espaço desta alcova e o tamanho da minha solidão.


04/01/2011 3h20

6 comentários:

  1. Nossa bem da horaa eçe Poetta Parabéns;

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  2. A entrega genuína e absoluta é decerto o passaporte para o mundo dos sonhos-reais.
    (Nalva Nogueira)

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    1. Obrigado pela leitura, minha amiga. Beijo no seu coração. Fico feliz que tenha gostado.

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  3. Li o conto, e fiquei visualizando a cena.
    Bela composição.
    Grata por compartilhar.

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  4. Oi, rs amei, obrigado por me apresentar esta apgina... beijos... Entediada

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