domingo, 29 de julho de 2012

Os Dois Cientistas


          Havia dois cientistas. Um era ateu e o outro não. Um cria em Deus, enquanto o outro acreditava que tudo era ciência, exata. De vez em quando eles se pegavam discutindo a possível existência de um ser Supremo ou a sua não-existência.
- Não tem como tudo surgir de uma explosão! Gilberto exclamou para seu amigo, Afonso, enquanto estavam numa calorosa discussão.
- O que não tem como é tudo surgir pela Palavra! Como coisas vão simplesmente surgindo? Explica isso para mim se você é capaz. Pelo menos a tese do Big Bang tem sentido. Ora, vamos. Não seja tão tolo. Você sabe que com uma explosão e com os milhares de anos tudo pode realmente ter acontecido. Diferente de você falar uma coisa e essa coisa se materializar.
Quando eles começavam com este tipo de conversa não tinham como se darem bem. Nenhum dava o braço a torcer.
- Fé é algo que nós não conseguimos explicar. Se você tem fé em Deus e que Ele pode fazer o impossível, o impossível se torna possível. Disse Gilberto.
- Para o impossível acontecer só ser for com muito trabalho. Debochava Afonso.
Não era por causa de suas crenças que eles deixaram de ser amigos. Muito pelo contrário. Afonso sabia que Gilberto era um cientista excelente. Fazia aquilo com gosto, era excepcional naquilo que fazia e que tudo que ele colocava a mão, funcionava.
Certo dia Gilberto comentou:
- Como podo o sistema solar funcionar perfeitamente? Tanto você quanto eu sabemos que se um só eixo estivesse pouca coisa fora de sua órbita a Via Láctea não funcionaria harmoniosamente. Os planetas se chocariam e haveria uma verdadeira catástrofe.
- Eu concordo contigo. A Via Láctea é perfeita. O sol está no centro, posicionado estrategicamente para enviar sua energia até a Terra, onde, pelo menos em nossa galáxia, existe vida. E o engraçado que é só no planeta Terra. Como se o sol estivesse ali para transmitir a energia de que precisamos.
Gilberto não conseguia entender a maneira de pensar do amigo. Ele sabia que o amigo era inteligente, mas não entendia como alguém tão inteligente não conseguia acreditar no Invisível.
Certa noite ele teve uma idéia fantástica. O dia amanheceu e ele continuou com aquela idéia martelando em sua mente. Talvez fosse o Invisível de que tanto acreditava. A semana se passou e a idéia não saiu da sua mente de jeito nenhum. Encafifado naquela quinta-feira, disse para Afonso:
- Afonso. Estou com uma coisa de Deus aqui dentro da cabeça. Mas se eu te disser você não vai acreditar.
- Pare com essas bobagens de Deus homem. Você sabe melhor do que ninguém que é muito inteligente, que esta voz que diz ter ouvido foi o seu próprio pensamento e os seus montes de “eus” falando com contigo mesmo. Disse num tom de ironia como sempre fora de seu feitio.
- Ah! Tá bom! Tá bom! Gilberto disse batendo as duas mãos em suas próprias coxas num gesto de quem não aceita o argumento de alguém, e saiu.
O laboratório onde trabalhavam era grande. De modo que havia uma sala vazia escondida.
“Eu quero que você trabalhe aí Gilberto. Faça Tudo o que Eu te disser.”
Aquela voz não era uma voz qualquer. Não tinha ninguém ali. Aliás, ninguém entrava naquela sala a séculos. Dava para ver pelo tanto de poeira e  teias de aranhas espalhados nos cantos escuros das paredes.
Quando Gilberto entrou na sala tudo veio em sua mente numa rapidez como um piscar de olhos, com uma nitidez de dvd. Ele já não conseguia desacreditar. Tudo estava claro. Ele era o instrumento que Deus queria usar. Então, começou a trabalhar. Primeiro fez uma uma faxina. Não queria a ajuda de ninguém. Ora, a ordem tinha sido para ele e ele não desejava decepcionar o seu Senhor. O trabalho era minucioso e cansativo, mas com toda a certeza valeria apena.
- Onde foi que você se meteu na hora do almoço? Eu fiquei lhe esperando para a gente almoçar e não o vi. Depois não lhe vi por aqui também... Onde você estava? Afonso perguntou para Gilberto.
- Prefiro não dizer para não mentir.
Por hora aquela explicação que não dizia nada acalmou Afonso. Muitas vezes o amigo ficava lendo aquele livro que dizia ser sagrado. Tudo bem. Não iria ficar intrigado com aquilo já que no horário de almoço preferiria jogar dominó com os colegas do que ficar discutindo sobre crenças.
Passaram-se mais de três meses. Afonso até já tinha se esquecido de quantas vezes Gilberto sumia na hora do almoço. Tinha se acostumado aquela rotina de jogar dominó no horário de almoço. Parecia que o jogo desestressava.
Mas no final do expediente daquele dia, Gilberto chegou para Afonso e disse calmamente:
- Eu quero lhe mostrar uma coisa hoje.
- O que é? Afonso quis saber, a curiosidade aflorando em suas veias.
- Vem cá. Vem cá que vou mostrar. Disse empolgadamente.
        Quando entraram em um corredor pouco movimentado, Afonso estranhou. Nunca tinha entrado por ali. Sentiu que algo estranho poderia acontecer. Seria a pré-cognição de que a parapsicologia tanto falava?  Que era estranho era. Mas preferiu não comentar nada. 
- Venha. Não tenha medo. Não é nada que morde não. Gilberto disse entre sorrisos, enquanto abria a porta daquela sala desconhecia para o amigo.
Afonso entrou, mas não conseguiu ver nada. Estava muito escuro.
- Haja luz. Gilberto falou.
De repente uma luz se acendeu do nada. Afonso viu uma cena linda. Era a Via Láctea de forma “minúscula”, porque era do tamanho da sala oito por oito, com todos os detalhes a sua frente. Como era linda! Nunca havia visto nada parecido. Pequenas gotas de lágrimas quiseram brotar de seus olhos, tamanha era a emoção que estava sentindo no momento. Aquilo era um trabalho de um verdadeiro mestre. Os planetas estavam perfeitos. Suas cores. E eles circulavam envolta do sol e giravam em torno deles mesmos. Seus respectivos satélites postos perfeitamente. Os cometas reluzentes pareciam vivos, de repente se apagavam como se fenecessem e de onde não havia nada surgiam novos cometas. A infinidade de estrelas cintilantes em meio a escuridão também faziam espetáculo. O sol brilhando soberbamente. A Terra estava gloriosa. Parecia tudo muito real.
- Quem fez? Afonso perguntou num tom emocionado e curioso.
E Gilberto respondeu com toda simplicidade:
- Tudo foi feito por uma explosão.


15/07/2010

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Soneto Do Sonhador



A tristeza que eu sinto em meu peito
É profunda e não sangra por fora.
Quem me vê sorridente de dia
Nunca viu o meu pranto de agora.

Ela ataca de modo perfeito,
Que o ranger dos meus dentes vigora
No silêncio de pura agonia,
Que a minh' alma pungente mui chora.

E eu me lembro que fui felicíssimo
Com o riso dos risos, lindíssimo
Mesmo estando em meu mundo, sem prosa.

Pranteando aos soluços sozinho
Eu me empenho ao sonhar que esse espinho
Se transforme num vaso de rosa.

18/07/2012 2h06

terça-feira, 17 de julho de 2012

Relatos de Uma Pena


Velei a noite inteira o meu amor
Na pungência sofrida de meus passos,
Relembrando vitórias e fracassos;
E a canção me ajudou em meu labor.

O meu peito dorido e sofredor 
Pensou em morte triste e sem regaços,
Sem amigo, parente, amor, abraços...
No desdém do ermo escuro e sem albor.

Em meu calvário atroz, desesperado
A solidão fiel foi companheira,
Pois esteve comigo, bem ao lado.

Tive a pena uma amiga verdadeira
Que, ajudou-me a contar meu triste estado
Em que velei por ti a noite inteira.

17/10/2010

sábado, 14 de julho de 2012

Golias

Vejo à frente montanhas tão altivas!
Desanimo em meu lânguido compasso...
Chora meu coração sem esperança
de ter só para si um novo regaço.

Perde-se o sonho cândido no espaço
levado para o fim do firmamento
e, sozinho, padeço dolorido,
magoado, ferido em sentimento.

Um doer que não passa com o tempo
sorrateiro, silente, em todo o dia...
Que vara noite e noites num pungir,
lacerante pungir, louca agonia

que, desapercebida só me cria
um complexo recôndito no ser
e minha alma estrebucha solitária,
procurando a alegria no viver.

Quem olha o meu sorriso não quer crer
que lá no fundo tenho em mim guardado
o feral desespero de agonia,
o rancor que me deixa lacerado...

E, quando tenho um único anjo alado
me despeço sem ter u'a alternativa.
Que deste abismo escuro sinto tanto,
vendo à frente montanhas tão altivas!


00h43 19/05/2012

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Abismo


Saudade que fulmina o meu peito,
rebenta, destruindo a minha alma,
alaga o coração de tristeza
e eu fico aqui suspenso e sem pé.

Voltava do mister tão cansado,
beijava-lhe co' amor, gratidão,
alívio de ali vê-la contente
sorrindo com um "ufa!" feliz.

Laçávamos a nós com ternura
e hoje tudo o que vejo é o passado
lotado de lembranças felizes
distantes nesse abismo que é abstrato.

04/07/2012

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sentir Saudade


É sentir uma dor louca,
ansiedade em demasia,
lembrança que não é pouca
e a esperança em certo dia.


01/07/2012 19h57

domingo, 1 de julho de 2012

Amor: O Poder de Deus


Quando sofro a depressão
de não ter nenhum amor
abro bem meu coração
a Jesus, o Salvador.


Ele envia o Santo Espírito,
que me dá consolo e paz
no momento que o intuíto
é livrar dos vendavais.


E com meu pranto dorido,
a confessar o meu pecado,
Ele, faz-me o mais remido
ser humano laureado.


Ao passar pelo Jordão
eu começo a agradecer
ao Pai que me deu perdão,
salvação, graça e viver.


Mas tu que não tens a paz
dentro do teu coração,
não olhes mais para trás,
mas à frente, à salvação.


Que o bom Jesus, que muito ama
todo o pobre pecador,
no teu peito acende a chama
a viveres com louvor.

27/07/2009

Contrário


Quando o mundo todo canta
seu louvor para a Luxúria
o meu peito se quebranta,
sente nojo e muita injúria;

enquanto o mundo festeja
a viuvez da senhora
é o meu peito que arrasteja,
de tristeza muito chora;

enquanto o mundo se alegra
em toda a efemeridade
o meu peito segue a regra
de sofrer na eternidade.

Porque eu vivo na tristeza
com meu pranto rubicundo,
solitária fortaleza
ao contrário deste mundo.

09/02/2012 3h11