domingo, 21 de outubro de 2012

Lira Ardente


A lira ardente do poeta triste,
que anela tanto o fervilhar de amor,
promove à diva o senhoril em riste
até a alvorada com feral calor.

A deia sente a proteção sem dor;
cobrindo o corpo, o coração resiste
a lira ardente do poeta triste,
que anela tanto o fervilhar de amor.

Por que o poeta a conquistar persiste
a diva fria que não lhe é fautor?
Tal passarinho que ao bicar o alpiste
se sente alegre ao demonstrar o amor;
a lira ardente do poeta triste...

11/09/2012 4h05

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Eu Canto a Saudade


É a saudade que aperta o meu peito,
que me oprime, tritura, molesta...
Para mim faz careta de festa
e, zombando, me faz mais pungente.
Sentimento que, deixa-me mórbido,
sem quimera de ser tão feliz,
a Deidade que beija e bendiz
o poeta que sente, que sente...

Ela enfia em meu peito uma estaca
arrancando qualquer alegria;
do sorriso – uns encantos, magia...
Que, faziam-me ter muito amigo.
Hoje o pranto me sai facilmente...
Os meus versos tristonhos, sofridos
fazem todos chegados queridos
mais distantes; não choram comigo.

Eu me lembro de ti, meu amigo!...
Os sorrisos que juntos nós demos,
as piadas e peças – fizemos
a lembrar do menino Jesus;
e de quando saíamos juntos
para o mato e na bica de água...
Não havia o doer desta mágoa,
a ferida plangente e com pus.

Eu me lembro dos dias passados
e dos jogos que nós dois jogamos,
logorreias que tanto falamos,
mas que muito fizeram de nós
os mancebos mais ledos do mundo
alegrando qualquer companheiro.
Eu me lembro de tudo, parceiro
que até chega embargar minha voz!

Eu me lembro de ti, minha amiga!
Tão leal e fiel confidente,
que em momento tristonho ou contente,
abraçava-me e ria pra mim.
Quantos dias passaram, amiga
que a distância e o maldito destino
Separou-nos?... E agora o meu hino
é lembrar-me com pranto carmim.

Eu me lembro de ti, meu amor!...
Teu carinho – que doce! – atenção:
e ficava alisando co' a mão
o meu rosto no claro luar.
E, beijando-me com a ternura
no pedaço de um tronco deitado,
onde eu fui um herói coroado,
na ventura de teu doce amar;

quando a noite pesada de inverno
nos fazia brotar mil lamentos,
revelando-nos os sentimentos
que nós nunca tivemos na vida;
onde víamos tudo com brio:
os canteiros, nos campos – as flores;
as estrelas; dos corpos – odores
que a paixão sugeriu-nos, querida;

quando em ti eu afogava o meu pranto;
quando tu me entendias, querida
suportando uma dor tão sofrida:
e também o meu ombro era teu...
Quando o sol se inclinava distante
e no tálamo férvido nós
sussurrávamos quase sem voz:
– Nosso amor é tão lindo... Oh! Meu Deus! 

Dou adeus para ti, meu amor;
dou adeus aos passeios contentes,
às histórias felizes e gentes;
dou adeus para sempre equidade.
Mas que saibam amores da vida,
meus amigos gentis, minha amiga:
que o presente que tanto castiga
é a deidade chamada: Saudade.