segunda-feira, 14 de julho de 2014

Fragmento

Espargir meus sentimentos,
Enxugar toda a minha alma
E voar mesmo sem calma
No infinito da poesia...
Derramar os meus lamentos,
Lamúrias loucas, mazelas
Com as artes, formas belas,
Com o abstrato da magia...

Parece até insanidade,
Superficialidade,
Tola falta de verdade
O canto do passarinho.
Mas quem esteve no ninho
Vendo a ferida incruenta,
Sentindo o ardor da pimenta?
Foi o vate tão sozinho.

Queria pular,
Sair e voar,
Talvez não ter ar,
Pra sempre fugir!...
O meu desespero
Tem tosco compasso,
Não sei o que faço!
Talvez sucumbir.

Adeus meus amores passados,
Adeus meus amores febris,
Paixões que fizeram de mim
Pior do que o vil Querubim...
Anelo ter flores de anis.

Eu não sou mentiroso a tal ponto!
Sei que voo sem ter as aletas
Mais formosas do mais ledo conto.
Ah, meus versos são como os cometas!...

14/07/2014 3h13 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Complexo

Quem sabe um irmão de outra era,
ébrio em uma noite escura,
imaginando a quimera
da mais cândida ventura.

Quem sabe um tronco no mato,
estrelas, noite e lua
em um lugar tão pacato;
uma paixão seminua...

Quem sabe o complexo ardente,
ginásio vazio à noite,
vate chorando pungente
e sem um ombro que o acoite.

Lacerações tão profundas,
mágoas escorrendo em rios,
todas elas, oriundas
de sentimentos sombrios.

Quem sabe o olhar cauteloso
que diz lá no fundo amar,
num gesto insano e maldoso
de quem sabe se vingar.

Quem sabe o cachorro estúpido;
quem sabe alguém coerente,
por ser equânime e cúpido,
tenha a atitude decente.

Quem sabe a profundidade
seja complexa demais,
obstruindo a claridade,
trovada longe da paz

para quem acha bonitas
as trovas de um tolo vate
ébrio, porém sem biritas,
vivendo um plangente abate.

Talvez seja em outra esfera
o cão não olhe maldoso;
o tronco, a dama, quimera...
Tudo seja paz e gozo.

20/08/2013 15h50