terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Galope do Jugo, Julgo e Dogmas


A moça bonita beija a outra menina
E o macho se esfrega no pau de outro macho...
Parece que o homem do diabo é capacho
E o adúltero julga ser erro essa sina;
Porque o homem vê a prostituta na esquina,
Achando-se o santo dá a grana pra amar,
Depois com seu bico empinado pra o ar
Despreza o mendigo que lhe é semelhante,
Julgando-se certo em caminho brilhante
Que leva ao buraco mais fundo do mar.

Eu fico buscando no mundo gigante
Ventura, candura, o amor de verdade...
Não jugo que dão por um dogma ou maldade,
Por puro desprezo de uma alma ofegante
Que quer, que deseja ser sempre operante
Na pura malícia, e o veneno a esporrar
No rosto de quem tá perdido, sem lar...
Talvez se ele olhasse no furo do umbigo
Veria que o espera o mais duro castigo
Que leva ao buraco mais fundo do mar.

O julgo parece que vem do Inimigo
E o tolo coloca e repassa pra o povo,
Dizendo ser cem, mas não passa de um ovo
Comido com gosto lá fora do abrigo...
Se o tolo vier tirar uma comigo
Eu jogo as verdades que tem que escutar,
Nem deixo esse cego no ouvido a falar,
Porque muito sei que isso é falta de amor,
Sem ele o coitado verá o Malfeitor
Que leva ao buraco mais fundo do mar.

Cairo Pereira

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Trovas do dia 20 de Maio de 2015

I
 
O meu peito não comporta
o tamanho da saudade
que o tritura, após a porta
que guarda uma Imensidade.
 
II
 
Creio que a trova é importante
pra falar em poucas linhas
tudo o que sente um amante,
sem ter tantas ladainhas.
 
III
 
Voa pássaro, bem alto,
voa, mas olha pra mim;
sem o seu canto de arauto
juro que será o meu fim!
 
IV
 
Quando eu chego na Estação
de Ferraz de Vasconcelos,
choro com tanta emoção,
porque perco os meus anelos.
 
V
 
Este espaço, ninguém sabe,
desde o início à despedida,
dentro de um nome só cabe:
nós conhecemos por Vida.
 
VI
 
Palavra misteriosa
é a Saudade, que confunde
entre a triste, entre gostosa
neste nosso mapa mundi.
 
VII
 
Minha sogra é da molesta,
acho que é filha do cão!
Tudo que fala não presta,
inda arrasta quarteirão.

terça-feira, 17 de março de 2015

Parabéns!

Para Diogo Queiroz

Os meus parabéns são sinceros, Diogo!
Desejo pra ti muita paz, harmonia,
saúde, churrasco, cerveja alegria,
dinheiro, xaninha - e que venha com fogo,
amor e paixão que te peçam com rogo
o teu coração, e que possas, sim dar...
Um trampo que possa o teu ego elevar,
o rock firmeza, também mil améns...
Meu truta, desejo pra ti, parabéns!
Cantando o galope na beira do mar.

Desejo que o porco não caia de novo
e faça vexame pra sua torcida;
meu velho num 'guenta, mas fecha-se à vida,
nem diz que levou u'a porrada no ovo;
porém, meu amigo, ao dizer me comovo...
Que ao ver as porquinhas que temos que amar,
seus glúteos formosos podemos fitar:
nem quero dizer das gostosas peitolas,
atiçam meus sensos até os das bolas,
cantado o galope na beira do mar.

Desejo que tua cultura evolua,
que pintes, despintes com cores o mundo,
que leves ventura até mesmo pra o imundo,
que chora sozinho, pedindo pra lua
lhe dar menos chifres; que o povo da rua
te veja – um artista – que sabe pintar
o triste, o contente e que sabe brincar,
que cada ano passe com muita alegria,
que os anos te tragam mais sabedoria,
cantando o galope na beira do mar.

O meu desabafo vem cheio de amor,
porque amo demais ter a tua amizade
e, vamos dizer, cá, com sinceridade,
galinha que é preta merece o fedor
de gols, de derrotas, de botas... pra dor
no lombo corcunda pra nos alegrar.
Só quero, Diogo, fazer-te lembrar:
das brejas que juntos tomamos felizes,
que juntos curamos fatais cicatrizes,
cantando o galope na beira do mar.

Então, neste dia eu desejo que esqueças
das dívidas, lutas, amores perdidos,
dos chefes malditos e tão corrompidos,
que pelo o poder perdem suas cabeças,
das dores sentidas, amigo, obedeças,
e corra sorrindo só para abraçar
a tua coroa e qualquer familiar
e diga: - Mamãe, obrigado por tudo!
Eu sou desenhista – por ti – sou sortudo!
Cantando o galope na beira do mar.

17/03/2015 14h18

Talvez a Esperança...

Às vezes, na vida, passamos sufocos,
Perdemos as contas das humilhações,
As contas - milhares - no lombo, vergões,
As tapas, porradas, no rosto mil socos,
Desdém, desamor, os descasos sem trocos,
Das vezes que o tudo não é salutar...
São tantas lições, nem podemos falar
Das coisas injustas de vis roubadores
E nós nos calamos sentindo os horrores,
Cantando o galope na beira do mar.

Não temos sequer o direito das dores,
Das lágrimas tristes, sozinhos à noite,
Porque nos consome a injustiça do açoite,
Então, não contamos a amigos, senhores,
Senhoras sabidas que têm seus valores,
Porque eles também necessitam chorar.
Aí nós pensamos só em naufragar.
Talvez a esperança nos puxe pra cima...
Sei lá de onde vem a coragem e a estima,
Cantado o galope na beira do mar.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Trauma

Eu já vaguei pela noite
Vendo as estrelas distantes,
Sonhando com meu amor

Que vivia noutra terra.
Batia aquela saudade,
Começo de enfermidade
E, sozinho pranteei,
Porque não era mais rei
E tinha perdido a guerra.
Eu sentia uma paz mórbida
Caminhando pela margem
De um rego fétido, imundo,
Mas eu via tantas flores.
Engolia a seco sempre,
Olhava para as estrelas,
Observando o Firmamento,
Ouvindo os grilos cantando,
Sentindo me apunhalando
Com uma lança, a Saudade.
Oh, que cena triste, triste!...
Perco-me nas reticências...
E, por que, meu coração
Trazes a dor para mim?
Aos passos lentos furtava
A alva arte da melodia
Que entrava nos meus ouvidos.
Periferia, pobreza,
Desemprego, desalento,
Desdém da dona fulana,
Que em barzinhos com amantes,
Sugando a alma dos coitados
Co'o mesmo truque barato
Que usara comigo um dia,
Nem se lembrou dos meus beijos...
Mas eu caminhava só.
Meu pensamento era um:
Ela e eu juntos pra sempre.
Tolo, tolo, tolo, tolo, tolo!...
Perco-me nas reticências!
Uma afirmação veraz
Que forçou-me a pensar tanto;
Pensamento que me fez
Embalsamar aquele homem
No pregresso mais remoto,
Escondido a sete chaves.
Esqueci de ser romântico.
Para que buquê de flores
Para a próxima vadia?
Por que vou acreditar
No rir cheio de ironia?
E por que vou me prender
Como fizera outro dia?
Para sofrer de agonia?
Sentir a dor da saudade?
Suspirar na solidão,
Eu, as estrelas e a lua?
Não! Não desta dor maldita!
Sentir os gozos de Empíreo,
Vê-la sorrir de contente,
Realizar fantasias,
Correr de noite na rua
Como dois adolescentes...
E vê-la dizer-me "adeus",
Como se eu fosse uma roupa
Suja ou que o tempo estragou.
Para que tudo isso agora?
Eu já vaguei pela noite.

29/12/2014 15h43