sábado, 21 de abril de 2018

O Frango Assado


Nosso momento financeiros não estava o dos melhores. Para falar a verdade, não querendo ser um murmurador, estava péssimo: eu não tinha um emprego fixo e minha esposa também não. Pagávamos aluguel e não tínhamos familiares ou amigos por perto que pudesse ou quisesse nos ajudar. Víamos que estávamos sós. Quem nunca se sentiu só quando o mar está revolto? Diria que somente as crianças que são inocentes dos problemas que lhes rodeiam.
Minha esposa e eu estávamos perturbados pela falta de dinheiro. Conhecedor da palavra, eu entendia perfeitamente o que Salomão queria dizer em Eclesiastes 10.19 com: "Para rir se fazem banquetes, e o vinho produz alegria, e por tudo o dinheiro responde". Nós não podíamos fazer festa, beber vinho ou receber resposta de algo bom desta vida terrena, como a promoção de uma viagem, porque não tínhamos dinheiro.
Naqueles dias minha esposa estava sentindo algumas necessidades intensas de mulher, como ir ao shopping, comer em algum fast food  comigo ou com algum amigo; que fosse de São Paulo ou que fosse algum dos conhecidos que nos acostumamos a chamar de amigos que moravam em Sumaré, interior de São Paulo. O clima ajudava muito, por ser mais quente do que a capital paulistana. Açaí seria uma boa, mas e o dinheiro? Quando ouvia suas lamúrias me abatia demais já que sou o provedor. Jamais ela iria entender este meu sofrer interno, dificilmente demonstrado, porque quando a nossa filha falecera há pouco tempo atrás eu me fizera de forte e não demonstrara fraqueza para uma mãe desesperada naquele enterro que estivéramos sós. Por que demonstraria agora?
Acostumados ir à igreja ouvir a Palavra de Deus e louvar o seu santo nome para nos fortalecer espiritualmente, naquele domingo não foi diferente. Minha esposa estava triste. Nosso almoço não foi um dos melhores banquetes da nossa vida, e quando chegássemos em casa após o término do culto, teríamos apenas arroz e feijão para comer, pela misericórdia de Deus. Quem não iria se abater com tal situação? Coisa normal de ser humano. De domingo, pela manhã, o pastor vendia frango assado na igreja para ajudar no custeio da manutenção do templo. Havia sobrado dois frangos assados e ele os ofereceu para os membros da igreja com um desconto de 10 reais.
- Irmãos, sobrou dois frangos. Estamos fazendo uma promoção. Apenas 15 reais.
Eu não vi minha esposa quando o pastor levantou os dois frangos em suas mãos para mostrar à igreja, como também não senti o desejo do coração dela. Mas, consigo mesmo, ela anelou assaz comê-lo.
- Por que você não compra um? Uma irmã que era próxima e tinha intimidade perguntou para minha esposa.
- Eu não tenho 15 reais. Respondeu categoricamente.
- Marca. Depois você paga, ué! Ela deu uma rápida solução.
- Eu não! Não tenho dinheiro. Aí quando chegar o dia de pagar como farei? Vou ter que pagar de qualquer jeito.
O culto terminou. Como de costume saímos cumprimentando todos os irmãos. Eu me separei, nesse momento, da minha esposa e fui sentido ao púlpito cumprimentar o pessoal que estava ali. Vinha em minha direção o advogado juntamente com a sua mãe, uma senhora de pouca estatura, mas tão simpática que eu tive que me curvar um pouco para cumprimentá-la.
- A paz do Senhor Jesus Cristo. Eu disse.
- Amém. - Respondeu-me. Quando deu uns dois ou três passos do lado oposto, ela se virou e me chamou. - Irmão?!
- Oi.
- Você quer esse frango? Ela me perguntou, ofertando-me um nobre sorriso terno. Eu fiquei sem saber o que dizer.
- Por quê? Foi o que consegui dizer.
- É que eu comprei costelinha e joelho de porco. Tem muita comida em casa e somos só meu filho e eu. Comprei este frango para ajudar a igreja.
Eu ainda não sabia o que dizer. Estava num misto de incredulidade e choque ao esmo tempo, por estar presenciando uma atitude de caridade para com minha pessoa de modo que eu não poderia abraçar a senhora para lhe agradecer, e disse:
- Espera um pouco. Vou chamar a minha esposa.
Nesse momento levantei minha mão o máximo que pude para chamar minha digníssima e fiz sinal para que ela viesse, já que o frango estava em minha outra mão. Cheguei a ver o sorriso desconfiado dela, que se virou para a mesma irmã que tinha dito para que ela comprasse o frango e falou discretamente:
- Não acredito que meu marido comprou o frango fiado!
Minha esposa vinha se aproximando toda desconfiada. Eu mantinha um sorriso terno no rosto assim como o advogado e a sua mãe, enquanto minha mulher não entendia o porquê daquela felicidade.
- Viiida, - como eu a chamo - a irmã nos abençoou com um frango. Agradeça por nós, por favor.
- Obrigada irmã! Minha esposa exclamou e já abraçou e começou a chorar, emocionada. Eu não entendi o porquê do choro, que era de alegria.
Quando chegamos em casa, minha esposa me contou:
- Quando fui ao toalete a máquina de frango estava lá no fundo, bem perto, sabe. Aquele cheiro de frango assado invadiu meu ser e eu senti um desejo tão grande de comê-lo. Aí quando o pastor anunciou que tinha sobrado aquele desejo voltou à tona com mais força. Nunca senti tanta vontade  de comer um frango dessa maneira em minha vida. E quando a irmã veio e me ofereceu, ela disse: "- Eu tinha sentido de dar o frango para você". Só pode ser Deus, mô! Deus ouviu o pedido do meu coração desesperado.
Eu não tinha muito o que dizer e nem consegui compreender aquela bênção no momento, mas via a emoção da minha esposa tanto em seus olhos, como em suas palavras. Não tínhamos mistura nenhuma em casa. Porém naquela mesma noite a minha sogra e sobrinho da minha esposa jantou conosco, e ceiamos juntos. Aquele frango durou uma semana e a nossa bênção alcançou mais duas pessoas. Daí eu lhe pergunto: Quem conhece os pensamentos  senão Deus?
Juntos agradecemos a Deus pela bênção recebida, como um dos dez leprosos que voltou para agradecer e nos lembramos sempre daquele dia, porque quando os leões estiverem nos cercando, querendo nos devorar, Deus sempre enviará seus anjos para nos proteger; quando sentirmos fome, Ele enviará seu anjo para nos alimentar, como fez com o profeta Elias... desde que estejamos no centro da sua vontade. E tem gente que só agradece quando recebe a chave de um carro ou uma casa...

21/04/2018 14h19