segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Tempo e o Homem


É tenso quando a idade vem chegando;
quando a ruga ridícula aparece.
Vem uma, depois outra em quando e quando.
De repente se vê que se envelhece.

Pensar na experiência que enobrece
deixa o espírito humano um pouco brando.
É tenso quando a idade vem chegando;
quando a ruga ridícula aparece.

O tempo tudo, tudo vai levando...
A juventude, então, desaparece.
O corpo juvenil vai se encurvando
à ciência que o homem tanto engrandece;
é tenso quando a idade vem chegando.

06/2013

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Mariana

Ondes estás, ó Mariana?
Moça linda, refinada,
que faz falta em minha vida...
Ondes estás, ó Mariana?
Talvez perdida em absortos,
sonhando com a alegria,
deixando o tempo passar
em seu cantinho secreto,
ermo, junto à natureza;
talvez se encontre abatida,
porque o sonho não chegou;
talvez, num mundo quimérico:
imagina o teu Romeu,
Romeu que seja só teu,
um Romeu encantador...
Talvez a alegria cândida
a arrebatou em mil êxtases,
e agora esqueces de mim,
pois no topo não se sente a
necessidade de um bardo...
Ah, Mariana onde estás?
Volte logo o teu pensar,
o teu olhar que me encanta,
tua voz mimosa e doce
para mim, que almejo tanto,
porque esta saudade, bela
incomoda a minha alma
que esperneia só, frenética
e eu não sei o que fazer.
Ondes estás, ó Mariana?

16/02/2014 9h49

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ébrios de Amor

Lembrar do dia, da comemoração não faz sentido nenhum nesta madrugada cálida deste verão com este copo que seguro. Ainda mais porque a concentração fica pouca quando se mistura o cansaço, calor e pernilongos azucrinando no ouvido enquanto o álcool alucina mais a mente. O que sei é que havia uma comemoração. Rolava um monte de estilo de música desde rock a forró. Um amigo - o pai dele tinha um bar - resolveu fazer uma caipirinha com carambola. Da turma, pelo que sei, ninguém havia tomado a bendita. O que sei é que todos gostaram. E ao som do forró os cearenses e paulistanos dançavam. Eu nunca fui um bom dançarino. Ainda mais de forró. Talvez eu faça parte da grande massa masculina que fica olhando a pouca massa pegando as mulheres nos salões só pelo fato de saber dançar bem. E o que isso importa no momento? Nada! Porque a festinha era familiar: dois irmãos de criação do meu amor; suas respectivas mulheres; o amigo que fazia a caipirinha; a namorada dele e mais algumas pessoas que a essa altura do campeonato não me lembro.

E vai uma caipirinha pra cá, outra pra lá, outra praculá... Quando se deu conta, minha ex-mulher estava bêbada. Percebeu que não podia parar de dançar, porque se parasse iria vomitar ali mesmo. Eu achei tudo muito engraçado (e ela não dançava comigo, dançada com o meu amigo que fez a caipirinha).

- Eu não posso parar de dançar, porque senão vomito. Disse, quando o moço resolveu descansar um pouco.

O irmão mais velho dela ria, porque a embriaguez era visível. Sua irmã, que ainda não foi citada, também ria assim como todos os outros.

- Eu tô falano sério, gente! Sua voz era arrastada e, por ser arrastada se tornava mais engraçada. Ria por tudo. Parecia uma maconheira de primeira viagem. - Se eu parar vou vomitar. Venha dançar comigo. Chamava qualquer um.

Eu? Ora, eu... Eu estava feliz por vê-la feliz daquela maneira. A brisa ainda não tinha me pegado de jeito e eu não iria deixá-la me pegar sabendo que a minha mulher precisava de ajuda para voltar para a nossa casa. O nosso filho estava com a avo, minha sogra e ela não precisavam de mais trabalho com dois adultos bêbados num fim de semana qualquer.Quando saímos da festa, ela vinha falando alto, eu a segurando pelo braço, enquanto a deixava apoiar em meu ombro para não cair e se esborrachar no chão. Era tudo muito hilário para mim.

- Você precisa tomar um banho para ver se melhora. Eu disse.

- Eu vou vomitar. Esta frase estava em sua mente, talvez fosse a ânsia que estava sentindo que lhe fazia pensar só nisso.

Eu ria, porque realmente achava aquilo engraçado. É diferente de quando a pessoa é alcoólatra e você tem que conviver com a embriaguez dela todos os dias. Uma pessoa que bebe para se divertir, geralmente, não procura motivos para brigar. Briga quem é magoado, nervoso ou procura se esconder de algum problema. Ela não, ela estava se divertindo.

- Vou lhe dar um banho quando a gente chegar em casa.

- Promete que cuida de mim? A voz embargada e doce, típica de mulher sedutora pidona. Talvez não seja tão difícil imaginar uma ébria sedutora pidona.

Quando chegamos em casa, ela foi para o quarto e tirou a roupa. Eu a ajudei, pois seus sentidos estavam bem debilitados. Depois entrei com ela no toalete. Estava calor, eu tinha suado e também estava precisando de um banho. Não poderia deixar minha mulher sozinha naquelas condições: água, chão liso e pessoa ébria é um convite para um acidente.

Eu via aqueles seios lindos em minha frente, a cintura de pilão mesmo após ter tido um filho, o cabelo liso vermelho... Sem malícia. Via com ternura, enquanto ela apontava o dedo no meu nariz, sem encostá-lo nele e dizia:


- Posso te falar uma coisa, Cá? Posso?

- Pode. Disse com a maior naturalidade que encontrei, enquanto ela me olhava molemente, porém com olhar brando, doce, ledo e terno.

- Não é porque eu tô bêbada e que você tá cuidando de mim... - Era estranho ela começar a falar de sentimentos (porque eu previa) naquele momento, sendo que tivemos tantas oportunidades em outros dias. Mas eu estava ali para cuidar dela, para ouvi-la e não iria atrapalhar. Afinal, era de minha ajuda que ela precisava.- Não é porque eu tô bêbada - continuou - mas eu te amo, sabia? - Ela escorregou, eu a segurei e ela se apoiou na parede. - Não é porque tô bêbada... - sentia a necessidade de repetir a mesma coisa.- Eu sei; eu sei...


Quantos anos fazem isso? Não sei. Perdi as contas. O que sei é que não me lembro de ter ouvido-a dizer tais palavras novamente. E quando estou com saudade e entro no toalete para me banhar não tem como não recordar: os cabelos vermelhos que ficavam no ralo e por todo o canto da casa (agora não existem mais); os momentos bons que tivemos embaixo deste teto... Procuro um canto que não tenha estado com ela, mas a casa não é tão grande assim pelo tempo que estivemos juntos.

Saudade... Já tentei defini-la como poeta, cronista e contador de história, mas não cheguei a nenhuma conclusão. Só sei que o buraco que tem em meu coração é maior do que eu mesmo consigo imaginar.

- Não é porque tô bêbado que estou contando esta história, que eu tô dizendo que...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Tristeza

Melancolia do agreste
Que assola o meu coração,
Tristeza profunda, aguda,
Sem nenhuma compaixão.

Aperta, espreme, deprime,
Magoa soturnamente
Com os véus misteriosos
que destorcem minha mente.

Aflição das profundezas
Mais escuras dos infernos!
Não me dão do vinho tinto
Os abraços puros, ternos...

Parece um rio perene
que jamais seca o ano inteiro:
Estranha, febril. doente,
é um secreto nevoeiro.

Tampando a minha visão
E eu só sinto, sinto e sinto...
Seja lúcido de noite
Ou co'o véu do vinho tinto.

Absinto, aguardente pura
Para acalmar o meu siso.
Diriam: - Insano tolo!
Julgamento tão preciso.

Expliquem, seus desgraçados
Que veem o próprio umbigo
O porquê do não sentir,
A razão do meu castigo!

Por que eu deixei minha lágrima,
O sentimento profundo,
Pungente pender da minha alma
Se não veriam meu mundo?

Debocharam atrozmente,
Como se fosse banal,
Da minha plangência aguda
Com sorriso de chacal.

Como julga a dor alheia?
Eu pergunto com franqueza.
Se cada sentir interno
É secreto, mas certeza?

Não dá!... Mundo exterior!
Mundo tolo, egocentrista,
Que deseja ao seu favor...
Rindo como falso artista.

A vil malícia não morre,
Tem poder de realeza,
Enquanto, sozinho, choro
A desgraça da Tristeza.

10/02/2014 9h06

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Amante Perfeito

Era fiel, sensível, romântica, criativa, gostava de atenção só para si, mas era de uma dureza de coração como toda pessoa do signo de leão. Não gostava de ficar falando o que já era óbvio, porque achava tolice. Lívia vivia reclamando do comportamento do marido tal era a falta de atenção. Não que fizesse por querer, mas por achar que estava tudo ok. No namoro não fora assim. Geroboão dava toda a atenção possível, coisa que a deixava segura. Então, sua criatividade era eficaz para agradar o namorado:

- Cara você acredita que a minha namorada é um doce? Juro! Palavra! Imagina que ela, bom você sabe, ela é branca. Agora olhe bem para mim.
E o amigo:

- Você é um preto muito sortudo isso sim!
Geroboão dissera todo garboso de si:
- É isso mesmo. Mas isso não é a chave da questão.

- O que é, então? Leandro, que estava entrando no ramo de jardinagem quis saber, porque já estava sôfrego.

- Ela me deu um presente: uma casinha linda feita de papelão. Dentro um Sonho de Valsa, um Ouro Branco, uma carta romântica onde ela me disse o quanto me ama. Ao final da carta, ela me fez uma pergunta: “Você sabe o que significa?”

- Ela te fez um enigma?

- Exatamente! - disse todo eufórico. - É claro que o Sonho de Valsa significa a eu que sou o negão e o Ouro Branco a significa, porque ela que é branquinha. O doce do chocolate em si é o nosso namoro e a casinha é o nosso futuro lar.

Mas, isso fora há muito tempo. Naquele tempo não havia internet. Depois que se casaram, Geroboão achou por bem comprar um computador. Aí a máquina valia mais do que a própria mulher. Ele dava mais atenção para suas amiguinhas da internet do que para a própria esposa.

Lívia começou a mudar gradativamente. Já não era tão doce como fora; já não cozinhava com o mesmo esmero; não era mais paciente como fora no namoro; não dava mais aquele carinho cheio de ternura de outrora; não ligava tanto para fazer amor como no namoro. De certo Geroboão pensasse que era a vida de casado. “Isso é normal”. E dentro de toda essa normalidade o casamento ia sendo empurrado com a barriga na visão de Lívia, enquanto na visão de seu marido tudo ia de vento e popa.
Contudo, Geroboão batia no peito com convicção:

- Minha mulher é do tipo de pessoa que prefere terminar o relacionamento do que trair, porque a traição não é da índole dela e muito menos de seu temperamento. Com certeza se traísse não se perdoaria nunca.

Leandro, que era o amigo mais próximo, procurava dizer para ele tomar cuidado, porque Lívia estava diferente. Geroboão achava que era paranoia e que estava tudo bem, enquanto “a rosa é linda, mas espeta o dedo”.
Certa vez Leandro lhe disse:

- Pense numa rosa bem tratada no jardim. Linda, né é verdade? - O amigo concordou com um gesto. - Você como todo bom receptor quer expô-la para uma visita que vem de longe. O que você faz, então? Corta, põe num vaso lindo e a coloca em cima da mesa para ser vista. Quando a visita chega, elogia a sua rosa e lhe dá os parabéns. Mas, nem você e nem ela pensam que no momento em que a rosa fora cortada, ela tinha sido morta.

- Que nada! Você é cheio de filosofia de jardineiro. Disse, Geroboão sem se importar com a filosofia daquelas palavras.
Outro dia Lívia pegou uns email-s numa folha que seu marido deixara em cima da cômoda com uns nomes que nunca tinha visto na vida. Ficou triste, chorou àquela noite inteira. Logo depois bateu um ódio em seu coração leonino. Era a razão que lhe falava mais forte do que todos os sentimentos nobres. “deusadebano@hotmail.com; loraça_delícia@hotmail.com...” Uns fakes malditos mesmo.

“Estou triste, mas não vou mais chorar, porque você não merece. Depois que levar um chifre já sabe o porquê. Isso se souber. Não vou dar bandeira como você dá.” Colocou o recado em cima da cômoda juntamente com os email-s. Quando Geroboão viu, acariciou a mulher e deletou todos os endereços na frente dela como prova de seu amor. Achou que estaria tudo bem dali em diante. Deu uma maneirada na internet, para abrandar o coração da fera e seguiu como se nada tivesse acontecido.

Como Lívia era mais nova que Geroboão nem parecia ser uma senhora. Ela, que tinha os cabelos lisos, louros e longos, rosto angelical e cintura de pilão mesmo depois de ter Luís, não parecia ser mãe. Antigamente ela era bem esquelética, mas o Luizinho fez um bem tremendo para seu corpo, porque agora parecia uma autêntica brasileira, com dotes peculiares que chamavam a atenção de muitos homens. Sua meiguice era demais. Só que o nascimento de Luiz a atrapalhou em seus estudos. Agora com o filho maior, ela podia retornar.

E foi no colégio que conheceu Fabiano:

- Eu sou casada e não te quero.

Fabiano não teve muito que argumentar. E se o marido dela aparecesse armado na porta do colégio? “Melhor não arriscar, mas que ela tá querendo, ah, isso tá!”

Em casa Lívia dizia os seus “nãos” gloriosos. Coisa que deixava Geroboão todo feliz. Certa vez, ele pôde contemplar a mulher dizendo um não para um rapaz do colégio. Ela não o tinha visto, mas ele sim. Geroboão se sentiu muito bem amado, mais certo da fidelidade de sua esposa.

Mas, logo apareceu outra pessoa. Este, por incrível que parecesse, também se chamava Geroboão. Por não ser um nome tão conhecido, Lívia ficou apetecida por ele. Já não teria mais problemas em confundir os nomes.  O homem sempre faz o seu papal, porque a mulher sempre é a cobaia da vez e a presa era uma mulher casada. “Ela deve fazer mil e uma coisas, porque é casada. Com certeza não tem fricote.” E ali, Lívia combinou com o amante de modo que seria segredo para todos no colégio, porque seu marido era louco o suficiente para matar. “E eu estou gamadinha demais em você para lhe perder, concluiu.”

O outro Geroboão ficou apaixonado pelo dolo. Aí faziam os trabalhos escolares juntos, mas ninguém suspeitava, porque Lívia era casada, o marido dela vinha buscá-la várias vezes na porta do colégio... E ele não tinha a sorte de ir buscá-la justamente nos dias que ela ficava na porta da casa do amante conversando e namorando.

Naquele dia Lívia não resistiu e cedeu à perfídia total.

- Assim eu não aguento! Disse o amante. – Você é linda, toda apertadinha. E eu lhe quero! Quero só para mim, por que você não larga o trouxa do seu marido?

Contudo, um filho e o marido pesaram muito. Ela não poderia simplesmente jogar tudo para o alto. O que sua mãe e sua irmã iriam dizer?

- Eu não vou terminar meu relacionamento por causa do meu filho. Seria uma grande tolice minha.

Aquilo acabou com o coração do amante. Mas, ele não podia fazer nada para mudar a situação. Ele, que era evangélico se bandeou para o caminho da prostituição de uma vez, para aliviar a dor que sentia.

E a dissimulada continuou sendo vítima, enquanto o marido continuava implorando para ela fazer amor com ele, coisa que acontecia uma vez por mês, para dizer que não estava cumprindo as suas obrigações de esposa.

- Você nunca me dá atenção! Porque eu tenho que lhe dar assistência? Lívia se desculpava.

- Estou trabalhando 12 horas por dia, amor. Chego morto de cansaço para pôr tudo aqui dentro de casa, não compro nada para mim e quando compro é para você e para o Luiz e você ainda não quer fazer uns carinhos para aliviar minha tensão? É claro que você não sabe o que eu passo naquela porcaria daquela empresa. Tem dia que eu me levanto e só vou trabalhar por causa de vocês.

A discussão tinha sido calorosa. Naquela noite, Geroboão não conseguiu dormir direito. Lívia começou a sonhar com o amante, porque fazia algum tempo que não o via, e dizia coisas loucas dormindo, como se estivesse frenética de excitação, de modo que acordou o marido:

- Ah, Geroboão, meu amor! Assim! Isso! Com força...

Geroboão conseguiu dormir mais tranquilo depois disso. Da empresa ligou para Leandro com um sorriso enorme no rosto.

- Minha mulher é uma santa. Até dormindo, em seus sonhos chama pelo meu nome.

16/12/2010 17h37

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Temos Em Comum

Somos diferentes sim!
Mas temos algo em comum:
que é fazer merda até o fim
e no mundo soltar pum.

A mulher pode dizer
que é falta de educação,
mas é que cabe em seu ser
a tamanha discrição.

Coisa que não acontece
com o homem que é mais aberto,
que peida muito e se esquece
que a mulher não acha certo.

Mas, eu bem sei que a mulher,
quando solta a bufa rara:
chegar perto ninguém quer!
Fecham zói, nariz e cara.

A mulher fala sincera,
com total ressentimento:
- Cheirar peido quem espera?
Destrói relacionamento.

Porém, quando ela entra só,
senta no vaso real,
qualquer homem sente dó
de morar em um curral.

Como o homem apaixonado
é bobo por natureza
sempre perdoa, coitado,
a tamanha malvadeza.

Aqui não quero brigar
e nem ser um estupor;
somos iguais no cagar
que chamamos de cocô.

12/12/2011