quinta-feira, 20 de setembro de 2012

No Galopar da Saudade



Quem canta a saudade só pode ser crente,
um tanto lunático, em sua memória,
lembrando de tempos felizes, com glória...
Talvez para ter a sua alma pungente;
porque quem se lembra do tempo contente
deseja, na dor, que ele possa voltar;
e como o presente não é salutar,
por dentro se tem escondido o seu pranto
guardado, velado, coberto com manto,
nos dez de galope na beira do mar.

E como? - Pergunto, pois bem no momento
que a sua lembrança se torna Rainha,
mostrando a minúcia em cada uma entrelinha,
então, se deseja que volte o bom tempo
de risos felizes, real sentimento...
- Pergunto, pois, como se pode aguentar?
Que o tempo não volta a não ser ao lembrar;
por isso se chora com tal desespero,
carente e soturno, pois não é ligeiro,
nos dez de galope na beira do mar.

E, quando se vem na memória o bom tempo,
se torna em Princesa a feral Agonia,
levando pra sempre a candura, a alegria,
trazendo de volta os cruéis sentimentos:
tristeza, lamúria - o pior dos lamentos
que a gente não sabe sequer explicar.
Qualquer melodia que venha escutar
lhe dá por sentença o farol de um bom sonho
e logo em seguida um pungir tão medonho,
nos dez de galope na beira do mar.

Saudade se tem de um alguém que partiu
e dói e corrói... Fica a grande ferida;
porque nos machuca a cruel despedida
e a lágrima triste transborda igual rio.
É muito difícil! Diria: sombrio...
Pois todos nós vamos por isso passar!
E nesse momento com quem se apegar?
Amigo, parente, folhinha de arruda...?
Só temos a Deus e o Papai nos ajuda,
nos dez de galope na beira do mar.

Tem gente que zomba da sua ferida,
dizendo: - Você tem que olhar para a frente,
deixar o passado esquecido na mente
e toda a lembrança, por si já vivida.
Quem dera se tudo passasse na vida,
ficasse esquecido e sepulto no mar!...
Que as suas lembranças ficassem no ar!
Jamais se teria algum medo do amor;
de ter paciência e sofrer grande dor,
nos dez de galope na beira do mar.

Se tu meu amigo também tens saudade...
Ficando abatido não tenhas vergonha:
tu és o albatroz que está vivo e que sonha,
que guarda no peito a maior caridade.
Mereces aplausos, louvores de Jade,
porque teu afeto é fanal salutar.
Se um dia tiveres por que prantear
deleita-te, amigo, da boa lembrança:
és sábio, sensível tal qual é a criança,
nos dez de galope na beira do mar.

20/09/2012 5h37

domingo, 16 de setembro de 2012

Pé-de-Moça

Se todos os pés das moças
Fossem iguais a este pé-de-moça...

Eu perderia o prumo,
Gotejaria amor desvairado,
Viveria apaixonado
Por todas as moças do mundo,
Olharia para o chão
Igualmente a um cão
farejando os pés das moças:

Doces,
Lindos,
Saborosos
Como este pé-de-moça.

14//09/2012 3h37

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Soneto do Desesperado


Bramando no silêncio da madruga
eu pranteio sozinho a solidão,
esperneia a minha alma de aflição
e o coração implora que quer fuga.

Incomplacente, nasce muita ruga
e muitas cãs em plena escuridão,
onde meus pensamentos vêm e vão,
procurando fugir de quem me suga.

A Ansiedade insana é a grande mestra
que se intitula a dona desta orquestra
que só toca a tristonha sinfonia.

E eu me embalo no cântico da morte
que não tem caridade e nem suporte,
nem sequer o raiar de um novo dia.


07/09/2012 5h47

domingo, 2 de setembro de 2012

Rogo




A minha alma se apresenta para ti
com carinho afetuoso e sentimento
desejando, co' esperança em todo o tempo,
a ternura que ilumina a minha vida.

A minha alma te deseja sempre aqui
afagando em pleno gozo ou no lamento,
quando a lua brilha assaz no firmamento,
anelando que não haja despedida.

Em silêncio, ela vigora um brado forte:
Não se vá minha querida para o norte,
para o sul ou qualquer canto que tu fores!

Pois sem ti não tenho mais a vida plena!
Morrerei de uma pungência nada amena,
pranteando para sempre os teus amores.

02/09/2012 13h53