terça-feira, 29 de maio de 2012

Fo Fundo, No Fundo...


No fundo só leva o
pau oco trombando
e tu vais chorando,
sentindo mui dor;
pranteia de medo,
já solta suspiro,
a mente dá giro
e cai no langor.

No fundo só leva
o que já não presta,
e o rico faz festa
com ar zombador;
e o pobre tão quedo
da luta sofrida,
prepara que a vida
traz pau pra o senhor!

No fundo só leva...
A lágrima cai,
gemido, então, sai
sofrido em ardor:
O rico - penedo
"daquele não-vime"
já grita pra o time:
- Vim ver estupor!

No fundo só leva...
Não há mais leveza.
E tua tristeza
de bom sonhador
não passa tão cedo,
pois toda manhã
o pau da poncã
te faz sofredor.

No fundo só leva...
Quem leva no fundo,
martírio do mundo,
tristonho ao redor?...
Que tal meu segredo:
O rico faz festa,
pra o pobre o que resta:
Orar pra o Senhor.

23/10/2008 7h25



Zé Roliço

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Reflexão de Um Velho


A juventude passageira desta vida
Embalsamada na memória deste velho,
Procriação de perda, palma, despedida...
É minha bíblia e o que me traz tal evangelho.

Meu olho fosco não me enxerga neste espelho,
Mas eu me vejo claramente à velha lida,
Onde a fraqueza não tomava o rapazelho
Ao qual julgava nunca ter a alma abatida.

Sofreguidão, abatimento... É o meu estado!
Sabedoria? Tem um quê de palmatória;
Porque ganhei com muito tempo acumulado.

E olhando agora o tempo atrás da minha história
O que eu ganhei não me parece apreciado
Por mais perder do que ganhar muita vitória.

27/07/2012

sábado, 26 de maio de 2012

Amiga

Fui jogado à própria sorte...
Sem amiga, sem suporte
ao sentir a dor da morte
que afagou tanto o meu peito.
Desdenhado por amigos...
(Logo eu que fui tão terno)
ao passar por tosco inverno
de ar seco e rarefeito.

Em meu quarto e triste escombro
anelei tanto o teu ombro
quando tinha grande assombro
da maldita solidão;
Quem esteve aqui comigo?
Logo eu que estive ao lado
de ti, ó meu bem amado,
recebi desdém e não.

Esta dor não cicatriza
(quando sinto a leve brisa)
que ela vem mansa e desliza,
escorrendo da minh' alma.
Não custava o riso ledo,
o aconchego do regaço,
teu aperto num abraço...
Na carência e insano trauma.

Doei-me a ti - obra completa,
fui fiel em minha meta,
para ti amiga dileta,
dona do meu coração:
defendi contra os maus homens,
falsas, torpes amizades
e mostrei minhas cidades
com ternura e compaixão;

o incentivo que te dei
para ter da Santa Grei,
um amigo lindo e rei,
nosso bom Consolador;
o incentivo que te dei
para te tornar em culta,
deixar na cova sepulta
a ignorância e toda a dor;

eu também posso dizer
que o teu mórbido viver
abatia-te ao ver
tudo teu indo pra trás:
por vícios que trazem ópio,
dor malévola constante,
traição do insano amante,
o gigante, e vendavais.

Mas, eu estava presente
em teu momento pungente,
fazendo-te ir para a frente,
rumo ao auge da vitória,
suportando a tua dor
pranteei também contigo,
porque sempre fui amigo;
e isso não sai da memória!

Busco atrás em todo o tempo
o cândido sentimento
que caiu no esquecimento
de ti, minha grande amiga.
Que eu não posso suportar
esta dor que alastra o peito,
sendo que plantei perfeito
amor, este que castiga.

Mesmo aos braços do estrangeiro,
do efêmero corriqueiro,
estou sendo verdadeiro
ao mostrar-te a minha dor;
porque é ela que tanto fala,
que te lembra do passado
e que fui teu aliado,
teu amigo e teu amor.

Digo-te com emoção,
como que por comoção
de quem manda o coração:
- Vá pra longe deste abrigo,
deste ombro que te ama tanto,
vá cumprir o teu destino
que o peito deste menino
te será pra sempre amigo.

23/03/2012  12h01

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A Diva Baiana


A morena mais formosa da Bahia
vem pedir-me com seu canto, brandamente
um poema que lhe inspire em todo dia
que a pungência vem doer no peito e mente.

Não entendo como pode a nostalgia,
solidão ou depressão na mais silente
noite escura de uma terra em que a magia
faz seu povo ser tão manso e tão contente. 

Como pode a mais formosa entre as donzelas
ter no peito mil quimeras – diamantes!
E dizer não conseguir nenhuma delas?

É que o belo sempre si tem radiantes
luzes fortes, vivas, claras, amarelas...
E não pode se amargar como os amantes.

27/10/2010

domingo, 6 de maio de 2012

Desafio em Galope: Cairo x Nilson

Aqui o Nilson e eu somente estávamos brincando numa comunidade do Orkut que se chama Trovart:

Cairo - Que todos cantores aqui da Trovart
apertem seus cintos,vou dar espanada!
Pois sou valentão, com canhão, com espada,
com foice, machado, bereta... é minha arte,
se melem, se borrem, liguei meu start,
rebecas, violas não vão aguentar
os versos fuleiros do meu poetar,
mulher valentona, qualquer cabra macho
vocês vão ficar lá no inferno ou pra baixo
nos dez de galope na beira do mar.


Nilson - O Cairo na área querendo pancada?
Pois já bati tanto que doeu meu braço
já dei-lhe uma tunda, aprontei um regaço
que o pobre coitado não sabe é de nada
é bobo o menino, criança mimada
que finge que canta e que sabe rimar
e tem a pachorra de vir enfrentar?
Pois vire essa bunda que vais levar couro
seu verso é de lata, meu verso é de ouro
cantando galope na beira do mar.


Cairo - Jumento, fuleiro, poeta bichado,
um corno arrombado que não tem amigo,
que vive em castigo, és um pobre mendigo,
o boi mais fodido, marido viado,
mulher das esquinas, penico mijado,
poeta manjado até mesmo em xingar
não serves pra nada cagão singular,
matuto, molenga, macaco, cavalo...
Tu és o cocô escorrendo no ralo
nos dez de galope na beira do mar.


Nilson - Oh, Cairo, viado, seu corno bundão!
És trouxa, canalha, ladrão, vigarista,
sebento, babaca, imbecil, masoquista,
otário, marreco, és um boi vacilão
retarda, ranhoso, palerma e cagão,
sujeito mais burro, só quer apanhar.
Cretino, coitado, não sabe rimar:
És parvo, panaca, farsante e cretino;
achando-se o tal tu te mostras menino
cantando galope na beira do mar.


Cairo - Que isso amiguinho? Que verso mais fula!
Que verbo nojento, cagão, fedorento...
Lhe parto em quarenta, pois sou violento,
foi eu que cortei os dois dedos do Lula
você não é nada, não passa de mula
que empaca, não canta, não sabe rimar
a sua viola só sabe falar
que sou bom da peste, que sou bom demais
e todos me aplaudem porque sou vivaz
nos dez de galope na beira no mar.


Nilson - Qualé, Rosa Púrpura, aprume teu verso,
melhore essa escrita senão te arrebento
'cê sabe, meu velho, me sobra talento
e nessa peleja sou bom e perverso:
Sou Nilson, meu velho, tu posa de "Nérso"
se chama pra treta, pois vais arregar,
sair miudinho, pedir pra cagar...
Seu verso é capacho, eu atinjo o tal zênite.
O dedo do Lula? Matei o John Kennedy!
Nos dez de galope na beira do mar.


Cairo - Não sou Mancha Verde e jamais Tricolor...
A tua riminha vai dentro de um balde,
a minha ultrapassa os trezentos mil raund
te pega de quatro arrancando o bolor
do teu fundo feio, cheím de fedor
e todos agora começam louvar
o meu jeito manso de leve pegar
um cabra que mata um só homem em vão,
matei cuma bomba um montão no Japão
nos dez de galope na beira do mar.


Nilson - Irrita no Cairo ele ser tão baitola!
O cara até sonha com pintos e bundas.
Não sou da sua turma, você não confunda
Você desencane: comigo não rola.
Segure essa franga, seu Cairo, controla;
e volte pra rima, pro bom duelar.
Eu sei que és tão biba e só queres um par,
mas cá na Trovart não mordas a fronha:
Você se complica, só passas vergonha
cantando galope na beira do mar.


Cairo - Eu sou a topeira que rói todo o chão,
poder militar de trocentos mil cabra;
eu sou um encanto maior que "acadabra",
veleiro vivaz em qualquer um tufão,
cantor afinado, a madeira que não
consegue jamais por cupim acabar,
o ferro que nunca ferrugem terá;
eu sou o poeta que dou ponta pé
tu não és ninguém, pois só andas de ré
nos dez de galope na beira do mar.


Nilson - Se estou na peleja, eu esqueço o cansaço,
mas tudo se acaba, meu tempo e a cerveja.
A próxima, Cairo, eu espero que seja
na mesma batida e no mesmo compasso.
Estou indo nessa, mas deixo um abraço
ao povo bacana que veio escutar;
e, truta, querendo, é só vir me chamar:
Não falta vontade, nem rima ou assunto.
É nóis dois na área. Isso aê! Tâmo junto
cantando galope na beira do mar.

10/05/2011

Interações de poetas da comunidade do Orkut, Bar dos Escritores:

Jarbas Siebiger - 06/07/2011

Ataque:

O Cairo e o Nilson são dignos nababos
daquilo que o demo carrega na testa
calangos se acham, nessa triste festa
mas são lagartixas abanando seus rabos
não há quem aguente esse pobres diabos
montaram seus jegues à galope pra sampa
com blushes e rímels borrados na estampa
a tempo de andar de mãos dadas na "gay"
gritando, malucas: "Bolsô é meu rei!
quem trova sem arte, aqui não acampa!


Cairo Pereira - 14/07/2011

Resposta:
O Jarbas, coitado, não é afinado!
Por isso não tem o gracejo da rima;
o Nilson, ligado, já sabe que a esgrima
só serve pra quem reconhece o malvado
contor de primeira que tem um bocado
de versos, assuntos e bom linguajar;
não ponha, seu Jarbas aqui neste bar
palavra em inglês pra o cantor tão matuto
que tua mulé se lascou co' homem bruto
nos dez de galope na beira do mar.


Ft - 14/07/2011

Ataque:

Não tem mais duelo, nem farpa, contenda
porque destes dois metidinhos a vates –
de lirismo tosco, faltando em quilates –
não há brilhantismo, nem rima estupenda
senão enganando em partir pra oferenda
pra Buda, pra Zeus, pra São Jorge, Yemanjá
(ou Whitman, Machado, ou Ferreira Gullar)
achando que adianta louvando estes deuses
se o único DEUS (o Ft) está há meses
instruindo o galope na beira do mar...

Não houve mais respostas rsrs

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Poeta


Eder Boaventura



Caro apreciador da bela Arte;
enfermo da doença Poesia;
tu que sonhas co' o amor e co' a magia...
Paciente que sofre a dor de enfarte...

Tu quimeras, poeta, anela a Marte,
um amor que encarcera todo dia;
e derramas as gotas de agonia,
por alguém que não faz a sua parte.

Galante o pensamento teu divino
que revelas em versos puro amor,
esperando ganhar o teu troféu.

Admiro-te, bardo pequenino,
pois quanto mais mostrardes este ardor,
merecerás a ti sublime céu.

27/04/2012 4h09

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Arma


Iguais a facas afiadas
são tuas palavras cortantes,
laceram o meu coração.

Amputas a minha alma
com o teu egocentrismo
que não deixa espaço para o amor;
e o perdão passa distante
como um mero viajante
errante,
trafegando a depressão.

Calado,
fecho os meus olhos
e, silente parto:
parto ao meio meu sentimento
sofrendo dor de parto
sem retrucar,
inofensivo tal qual pombo
ante a multidão.

Que a idade me mostrou,
justa ciência do Tempo,
que as palavras têm
o poder da Vida e da Morte.

31/03/2012 1h12

terça-feira, 1 de maio de 2012

Morimbundo


A tristeza me pega de novo,
porque sinto o pungir verdadeiro
que me deixa sozinho, sem sorte,
sem carinhos, amor, companheiro...

Quando eu tinha os afagos de outrora,
a ilusão que sonhei porque quis
escapar desta minha plangência
que me quer moribundo, infeliz...

Eu vivi os momentos mais belos;
eu vivi os momentos mais ledos
e sonhei um porvir sorridente
que escapou por ali, dos meus dedos.

A esperança se foi tão veloz
para o abismo do Mundo Sem Fim:
e eu fiquei sem o chão que pisava,
pranteando e dizendo "ai de mim!"

A miúda que teve os meus lábios,
o meu corpo com sofreguidão,
a paixão que aqui dentro escondia
a razão de eu ter um coração...

Escarrou sobre mim vis palavras
e cuspiu nos meus bons sentimentos,
dando um riso faceiro e maroto
que me fez ter estremecimentos.

Quanta culpa jogou em meu rosto!
(fui o bode jogado ao deserto),¹
Com a culpa que em mim eu não tinha,
mas que fui condenado de certo.

Hoje anelo que as trevas me cerquem
pra lembrar que feliz fui num dia,
que a miúda me dava o aconchego
e o fanal para a minha poesia.

Hoje anelo que as trevas me cerquem
para que eu pense mais nesse povo,
no flagelo que causo a mim mesmo,
e a tristeza me pega de novo.


NOTA: antigamente o povo de Israel sacrificava cordeiro para ser perdoado por Deus de seus pecados. Eles pegavam um bode e soltava no deserto para morrer de sede e fome. O bode significava o pecado.

12/03/2012