segunda-feira, 30 de abril de 2012

Hoje Anelo Ter Teu Lábio


Hoje anelo ter teu lábio
junto ao meu, sublime Diva:
porque nele sou mais sábio
e minh' alma bem mais viva.

Em carícia fumegante
que incendeia o corpo meu,
no luar mais cintilante
que pra mim aconteceu...

E sentir o palpitar
deste teu coração ledo,
que oferece se entregar
com ternura ao bardo quedo.

Quero o teu colo sublime
e um amor mais que inefável!
Mesmo sendo que não rime
com meu peito tão instável.

Porque quando tenho o afeto
por querer, sem resistência,
de um alguém vivo e concreto,
vai-se toda esta carência.

E fugir de um mundo vil
para um mundo de fulgor,
de clarão, de belo anil...
Vem magia e o ledo amor.

Porque só, neste ocidente,
eu bem sei que nada valho.
Mas com tu serei contente:
Hoje anelo ter teu lábio!

21/10/2009 12h21


Mênfis Silva

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Amadurecimento


A graça da Plenitude,
um dia eu também a tive.

Foi tremendo, foi ligeiro...
E o sorriso transbordava.
Mas, porém, nunca faceiro,
mentiroso ou em declive.

Hoje o bardo sabe ver
esta vida com minúcia:

São canteiros, obras raras,
as estrelas, sol e flores,
mar e vento, mil odores...
Porque tem em si astúcia.

Ante o Tempo, ninguém vence!
Sobra um tanto de esperança...

E ao olhar para o passado
vejo: foi-se a Plenitude,
a candura de virtude...
Quis pegar, porém não pude!
E eu deixei de ser criança.

06/11/09 14h43

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Braços e Aletas

I

Os pássaros perdem seus campos, espaços...
E sofrem - coitados! - na vã tentativa
de ter os seus ninhos formados com laços
de amor que os humanos deixaram à deriva.

Destroem seus lares com pedras, com aços,
cimento e madeira - nem mandam missiva;
porque são robustos e têm fortes braços
e nunca se importam com mão aflitiva.

E os pássaros vivem cantando contentes
pra boa, pra má... - nem se importam quais gentes!
mas cantam solenes seu terno louvor.

Os homens estoldos só vivem à moda
bem ouvem a harmonia que nunca incomoda,
mas cegos, não veem o nítido amor.

07/01/09 11h11


II

Eu tenho uma casa que é mui confortável:
tem cômodos grandes, lareira e sofá;
na alcova tem tálamo quente, palpável
que eu deito, cansado de tanto sonhar.

Mas, quando eu me deito infeliz, tão instável,
o rosto molhado de tanto chorar...
Sem bem - poderia - viver ser afável
cantando singelo em padrão-sabiá.

E eu piro, dou giro, desviro na noite!...
Um pranto... um delírio... não há quem acoite
um ser sem escrúpulo deste planeta.

Pois bem passarinhos que não têm mais casas
invejo-vos muito, pois vós tendes asas
e eu tenho de tudo, mas menos aleta.

07/01/09 12h15


III

Verdadeiro Vôo


Mas quanta loucura que existe no ser
que insiste em dizer as loucuras pagãs!
- Eu vôo as manhãs com excelso poder
e o mundo hostil vê... - Tais idéias são vãs!

Não sei... - por ventura ou nefasto pensar
que dizes flanar como o mais ledo pássaro...
Teu senso no báratro atroz - negro mar
- já deve pousar, pois não passas de Lázaro.

Porque o poetóide tem mil pensamentos
e vôa nos Tempos com tua invenção.
Os sisos são naves que cortam os ventos,

mas vives momentos de pura ficção.
O pássaro vôa por si, jubiloso
sem nunca investir contra o bardo tinhoso.

26/01/2009 12h30

Cairo Pereira

sábado, 14 de abril de 2012

Canto de Alforria


Eu canto a tristeza de noites sombrias
nos dias funestos sem glória ou amor
os quais passam sempre arrastados, tristonhos,
sem vida, sem lume ou aurora e sem cor.

Eu canto a tristeza de forma brilhante;
e todos veneram a minha pungência
falada com arte nos versos que canto,
co’a dor e co’o pranto da minha demência.

Eu canto a tristeza com gosto doente:
Se a lágrima cai não me importo jamais!
Pois tudo que vale é o intenso momento:
Os bons, os ruins, ilusórios, reais...

Eu canto a tristeza com todo o vigor
em minhas poesias de versos senis.
Não falem, não julguem, meus caros leitores,
que ao fim da canção fico sempre feliz.



09/08/11