quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ela

Ela tem os olhos belos;
Tem o rosto de uma anjinha,
 É mais linda que rainha...
 Só por ela nutro anelos!
São tão lindos seus cabelos,
O seu corpo é um violão,
Desperta minha paixão,
Sua mão é delicada...
Eita! Que mulé danada!...
Mexe com meu coração! 

Seu perfil é de donzela,
Seu nariz tão perfeitinho,
Como é lindo o seu pezinho,
Nunca vi uma Cinderela
Me afastar da vil procela
Que me leva à perdição;
Que cintura de pilão...
E que pernas torneadas...
Eita! Que mulé danada!...
Mexe com meu coração!

Eu não sei se estou perdido
Ou se já me encontrei nela...
Oh, florzinha na gamela
Não me deixa confundido.
Quero ser por ti querido
Pega, então, na minha mão,
Diga que não é ilusão,
Diga, pois, que é minha amada.
Eita! Que mulé danada!...
Mexe com meu coração!

Quando fala em meu ouvido
Com a sua voz que é doce
Eu já penso: Deus que trouxe.
Isso deixa comovido.
Aqui dentro é um alarido,
É tamanha combustão,
Ela preenche todo o vão,
Pois me encanta como fada.
Eita! Que mulé danada!...
Mexe com meu coração!

Seu encanto é divinal
E me causa frenesi,
Foi na mente que perdi
Todo o meu potencial
De poeta de sarau
Quando eu vi na escuridão
A Divina, vindo, então,
E o meu peito em disparada...
Eita! Que mulé danada!...
Mexe com meu coração!

Posso ser o teu escravo,
Teu poeta, teu amor,
Companheiro de valor
Mesmo não sendo um batavo...
Ainda tento, ainda escavo
O teu peito com razão
De querer ver o botão
Nascer nele, ó minha amada!
Eita! Que mulé danada!...
Mexe com meu coração!


28/07/2014 14h44

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Fotografia Que Não Foi Tirada

Entre a antiguidade e o feio não há muita distância.
A Antiguidade surge como história,
O feio como subjetivo,
Porque fotografias monocromáticas são lindas,
Verdadeiras obras de arte para mim.

E lá estava um pezinho de uma árvore qualquer do outro lado da Avenida,
Talvez ninguém tenha olhado para ele,
Como também não olham para mim.

Enquanto, solitário entre gente,
Procurando a definição da minha enfermidade,
Abstrato do abstrato no recôndito da alma,
Pela janela do vagão do trem,
Onde pessoas conectadas com milhões de outras pessoas,
Num fingimento ou arremedo de relacionamento,
Procuravam a distração moderna para o atrito de corpos,
Olhos no olhos...
Eu, como o subversivo cão que fareja,
Via de longe a planta morta,
Que me parecia tão viva e cheia de sentimentos.

Fotografei-a de ângulos diferentes:
Plano americano,
Picado,
Contrapicado,
Plano-detalhe...
Tudo exatamente, como num treino mental.

Em meu ver, que era do lado de dentro da janela,
Pedia por misericórdia a pobre da plantinha:
- Fotografa-me. Eterniza-me.
Quero uma foto monocromática para que fique de recordação.

Extremamente sensível ao pedido da defunta, chorei;
Chorei incruento perante os usuários
Conectados em mundos diferentes,
Porque naquele átimo não pude ajudá-la.

26/06/2014 15h01