terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Fotografia Que Não Foi Tirada

Entre a antiguidade e o feio não há muita distância.
A Antiguidade surge como história,
O feio como subjetivo,
Porque fotografias monocromáticas são lindas,
Verdadeiras obras de arte para mim.

E lá estava um pezinho de uma árvore qualquer do outro lado da Avenida,
Talvez ninguém tenha olhado para ele,
Como também não olham para mim.

Enquanto, solitário entre gente,
Procurando a definição da minha enfermidade,
Abstrato do abstrato no recôndito da alma,
Pela janela do vagão do trem,
Onde pessoas conectadas com milhões de outras pessoas,
Num fingimento ou arremedo de relacionamento,
Procuravam a distração moderna para o atrito de corpos,
Olhos no olhos...
Eu, como o subversivo cão que fareja,
Via de longe a planta morta,
Que me parecia tão viva e cheia de sentimentos.

Fotografei-a de ângulos diferentes:
Plano americano,
Picado,
Contrapicado,
Plano-detalhe...
Tudo exatamente, como num treino mental.

Em meu ver, que era do lado de dentro da janela,
Pedia por misericórdia a pobre da plantinha:
- Fotografa-me. Eterniza-me.
Quero uma foto monocromática para que fique de recordação.

Extremamente sensível ao pedido da defunta, chorei;
Chorei incruento perante os usuários
Conectados em mundos diferentes,
Porque naquele átimo não pude ajudá-la.

26/06/2014 15h01

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