Onde de estás, ó flor aberta,
Rósea, de ideal olor?
Por acaso estás desperta
A desejar um amor?
Flor, que eu fico meditando,
Enquanto escorres teu líquido,
Ora muito, e quando em quando,
Um mais fino, porém lívido.
Que primor trazes à fenda
Que não sabemos — pimenta?
Ou nos seria uma prenda
Gotejante e suculenta?!
Ao beijar teu lábio quente
E vê-la estremecer ávida,
Desejando que a serpente
Adentre sôfrega e cálida...
Oh, flor que nunca plantei,
Mas que brotou tão singela,
De repente fez-me rei,
Na balbúrdia da aquarela.
Faminta pelo inefável,
Indelével oceano
Que vaga tão maleável,
Para seguir o teu plano!
E no fundo tens calor,
O aconchego do valente,
Teus afagos com fervor
A amansar o ser potente.
Formas róseas, saborosas,
De prazer sublime e edênico,
Nas volúpias mais gostosas
E no gemido mais cênico.
Constelações em que mil luzes
São acesas num só átimo,
Desconfigurando cruzes,
Pesadas como pão ázimo.
Assim sonham dorminhocos
Com o pecado inaudito,
Com as flores do Marrocos
E país que virou mito.
Rechonchudas de capo
E até mesmo as linguarudas,
Revelam o seu shampoo,
Como se fossem miúdas.
És a deusa do delírio
E de todo encantamento,
Porque levas ao empíreo
E também ao sofrimento!
Mênfis Silva
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