quarta-feira, 3 de julho de 2013

Eu Lhe Amo

          Puxa... Você sabe que eu lhe amo; que de alguma forma estou pensando em você! Posso até ser místico em dizer que você pressente quando a dor do meu coração está no ápice e que, por algum motivo abstrato, de alguma forma, vou perder o controle. Às vezes penso em presenteá-la só para vê-la feliz. São pensamentos absurdos como este que tenho agora! Porque quando a vejo feliz com alguma coisa que fiz, sinto-me o rei da cocada-preta.

          Outro dia, na Avenida Padre Arlindo Vieira, estava com um amigo (esse meu amigo você o conhece; ele estava brigado com a esposa e queria comprar um presente para acalmá-la). Ele estava desesperado mais do que demonstrava; eu estava tão triste que, por dentro o meu coração pungia; qualquer pessoa que fitasse meus olhos veria que minha alma estava sangrando. Como neste átimo eu imaginei: ela (você) não se lembra nem que eu existo e não se importa se estou bem ou não, porque o mais importante são os estudos, os novos amigos, as viagens, as novidades... É mais fácil se lembrar de mim no dia 20 do mês.

          E ali, observando os produtos, vi um conjunto de xícaras. Era um conjunto lindo de xícaras pequenas com as cores verde água e branco (se é que a minha inteligência pôde decifrá-las realmente). Senti um misto de alegria e tristeza: alegria por saber que o sapato mostarda que lhe dera (último presente dado enquanto estávamos juntos) a fizera muito contente; tristeza por saber que o jogo de xícaras não chegaria nem aos pés do sapato mostarda, não a faria feliz quanto ele, mas ali estaria todo o meu sentimento, coisa que você não se importa mais.

          Peguei o jogo de xícaras na mão com convicção e disse para o meu amigo e o japonês, dono do Basar Vitória (aquele japonês me vira crescer, porque a minha mãe sempre comprara meus materiais escolares no basar dele e eu ia com ela, mas acho que ele nem se lembra mais disso).

           - Já sei o que dar! Exclamei.
           Meu amigo estava todo confuso entre um balde de lixo para pôr na cozinha e um monte de outras bugigangas nada românticas, mas que eram precisas em sua casa, que o japonês sorriu com a indecisão dele. Parecia que nós estávamos fazendo uma festa.

          Afastei-me de ambos e fiquei namorando o jogo de xícaras, enquanto o meu pensamento ia de encontro a você. Claro que você estava do outro lado do abismo e virada de costas para mim, mas de alguma forma eu via os seus olhos: eles estavam tristes e magoados. O que um simples jogo de xícaras poderá fazer para ajudá-la? Perguntava para mim mesmo. Talvez a minha simples atitude em querer presenteá-la e o meu esforço, né? Continuei conjecturando.

          Vi-me sozinho. As pessoas haviam sumido do basar. Eu via o jogo de xícaras, você e meus pensamentos, enquanto caminhava para o balcão. Olhei para o lado e vi os cartões de namorados, aniversários, amizades... Não seria nada mal comprar um para acompanhar. Parei ali e comecei a ler um por um. Meu coração, agora, doía mais que antes; as lágrimas queriam saltar dos meus olhos de qualquer jeito. Minha alma dizia que não, meu espírito dizia que sim, o corpo não resistindo... Disfarçadamente eu olhava para o teto, respirava fundo, tentava imaginar qualquer coisa que não fosse você, por isso observei meu amigo vendo outros produtos. Porém, meu foco agora era os benditos cartões e eu tinha que ser o homem mais controlado do mundo. Lembre-me de um stand' up que assisti no youtube e segui a mesma regra: um cartão que diga tudo para que eu não tenha que escrever nada. 

          Feito. Paguei, fazendo graça como sempre, para disfarçar a tristeza e vim embora. No caminho de volta para a minha casa, mais pungência. Meu coração não me dava trégua. Pensei que iria ter um infarte, mas pelo que eu sei jovem não tem infarte por estar triste. Palavra feia é: desgraçado. O desgraçado era eu!

          Quando desci do trem fui a pé, ruminando pensamentos antigos. Quando me dei por conta já estava no seu portão. Não chamei pelo Pequeno, gritei o seu nome. Você saiu e me deu um sorriso forçado como se dissesse "aff! Você aqui?". Pedi um abraço. Achei que depois de tudo isso que senti e que ainda sentia, um abraço seu me acalmaria. Que nada! Só piorou, porque o seu abraço foi mais gélido que as geleiras da Antártida.

          - O que é isso? Sua curiosidade perguntou.

          Com um olhar de cachorro molhado estendi a mão e lhe ofereci o presente, que estava numa sacola plástica branca.

          - E o meu, pai? O Pequeno perguntou.

         - O seu será outro, filho. Este só é uma lembrancinha que o papai comprou para sua mãe. Ele reclamou um pouco, mas, por fim aceitou.

          Você abriu. Viu o presente e não esboçou felicidade alguma; não disse que gostou e nem que desgostou. Ao abrir o cartão eu disse brincando que não havia escrito nada e que você poderia até dá-lo para outra pessoa. Desta vez, quando acabou de ler o cartão, sua expressão foi de "como você é um idiota". Dei um beijo no Pequeno e lhe pedi um abraço. Você me deu um abraço tão xoxo, parecido com aqueles abraços de pessoas desconhecidas e desconcertadas ao fim de uma conversa que só dão três tapinhas nas costas, como se eu tivesse alguma doença contagiosa e disse:

         - Vai.

          Eu não tinha mais o que dizer. Tudo estava escrito no cartão. Meu coração estava exposto no bendito jogo de xícaras tal qual a luz no poste. Virei de costas, dei um passo e olhei para trás. Foi o tempo de você ver meus olhos tristes. Quando me virei para frente novamente e saí, as lágrimas começaram a cair fartamente. Você não as via, mas sabia que eu estava chorando. Não disse nada para me confortar. Você sabia que era um presente dado de coração como este... Só mais um..

Um comentário:

  1. Um dia terá o prazer de amar novamente com essa mesma intensidade, sem mentiras e traições, fica a dica.

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