Fui jogado à própria sorte...
Sem amiga, sem suporte
ao sentir a dor da morte
que afagou tanto o meu peito.
Desdenhado por amigos...
(Logo eu que fui tão terno)
ao passar por tosco inverno
de ar seco e rarefeito.
Em meu quarto e triste escombro
anelei tanto o teu ombro
quando tinha grande assombro
da maldita solidão;
Quem esteve aqui comigo?
Logo eu que estive ao lado
de ti, ó meu bem amado,
recebi desdém e não.
Esta dor não cicatriza
(quando sinto a leve brisa)
que ela vem mansa e desliza,
escorrendo da minh' alma.
Não custava o riso ledo,
o aconchego do regaço,
teu aperto num abraço...
Na carência e insano trauma.
Doei-me a ti - obra completa,
fui fiel em minha meta,
para ti amiga dileta,
dona do meu coração:
defendi contra os maus homens,
falsas, torpes amizades
e mostrei minhas cidades
com ternura e compaixão;
o incentivo que te dei
para ter da Santa Grei,
um amigo lindo e rei,
nosso bom Consolador;
o incentivo que te dei
para te tornar em culta,
deixar na cova sepulta
a ignorância e toda a dor;
eu também posso dizer
que o teu mórbido viver
abatia-te ao ver
tudo teu indo pra trás:
por vícios que trazem ópio,
dor malévola constante,
traição do insano amante,
o gigante, e vendavais.
Mas, eu estava presente
em teu momento pungente,
fazendo-te ir para a frente,
rumo ao auge da vitória,
suportando a tua dor
pranteei também contigo,
porque sempre fui amigo;
e isso não sai da memória!
Busco atrás em todo o tempo
o cândido sentimento
que caiu no esquecimento
de ti, minha grande amiga.
Que eu não posso suportar
esta dor que alastra o peito,
sendo que plantei perfeito
amor, este que castiga.
Mesmo aos braços do estrangeiro,
do efêmero corriqueiro,
estou sendo verdadeiro
ao mostrar-te a minha dor;
porque é ela que tanto fala,
que te lembra do passado
e que fui teu aliado,
teu amigo e teu amor.
Digo-te com emoção,
como que por comoção
de quem manda o coração:
- Vá pra longe deste abrigo,
deste ombro que te ama tanto,
vá cumprir o teu destino
que o peito deste menino
te será pra sempre amigo.
23/03/2012 12h01
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